O choque da decisão

No dia em que o Papa Bento XVI anuncia sua renúncia, um raio atinge a Basílica de São Pedro.

A segunda-feira (11/02/2013) entrou para a História como o dia em que, pela primeira vez em cerca de 600 anos, o líder da Igreja Católica abdica de seu cargo. Foi surpreendendo ao mundo que depois de sete anos enquanto Papa, Bento XVI alegou fragilidade em sua saúde como motivo de sua renúncia ao papado.

A notícia, obviamente, correu o mundo e tem ocupado as principais capas de jornais do mundo e os topos de debate nas redes sociais. E como tudo que ocupa tais locais, o assunto do Papa logo se tornaria centro de julgamentos inflamados. Inevitavelmente a ação e a pessoa de Joseph Ratzinger, e logo a Igreja Católica, a religião cristã e a figura de Deus voltavam então a ser centro de discussão no mundo e no país do carnaval - em meio ao próprio.

Para aumentar a polêmica, o período climático da Europa presenteia o Vaticano com uma tempestade densa durante a tarde de segunda-feira, com intensos raios que dificultavam o acesso da imprensa ao pequeno país, um dos quais atinge, exatamente, o topo da Basílica de São Pedro (foto a seguir).

Novo choque mundial. A imagem corre o mundo: uma resposta de Deus, uma despedida ao sucessor de Pedro, uma coincidência, um simples raio que, em meio a uma tempestade de tantos outros, atinge uma das áreas mais evidentes de um país de pequena extensão... o que for, fato é que a legenda "O Papa renunciou" ganhava uma ilustração que só reforçaria a gravação daquela segunda-feira na memória.

A renúncia do Papa foi anunciada para o dia 28 de fevereiro, às 20h00 no horário do Vaticano (18h00 em Brasília) e até por volta desta data, o nome de um sucessor deve ser anunciado. 

A renúncia a um cargo ou condição é sempre uma atitude corajosa. Mudar por conta própria o que se espera que aconteça, alterar um curso, sabendo os próprios limites e reconhecendo que muitas vezes pisar no freio é a melhor atitude é algo que podemos guardar do episódio, bem antes de entrar no mérito dos julgamentos e discussões, nos dizeres, "religiosas".

A figura papal se apresenta para o mundo como uma figura de poder, idealizada como o líder de uma multidão, especialmente em sua fé. Tudo o que nos lembre que essas figuras idealizadas também são humanas geram choque; tudo que nos lembra que nós mesmos (sem cargo nenhum) somos humanos, frágeis - e que podemos sim muitas vezes saber o momento de parar e decidir fazê-lo, parece muito mais assustador quando percebemos isso sentindo, ao invés de apenas lendo.

Esperem nos próximos dias até o dia 28 muitas retrospectivas do papado de Bento XVI, não vamos nos estender com mais uma por aqui, o último grande momento do Papa contém o que de mais sábio ele poderia ensinar: somos limitados, e acreditar que algo maior que nós vai assegurar que esses limites não nos afetarão não basta; por mais difícil que seja, somos livres porque precisamos decidir e assumir decisões. Se faremos isso sozinhos ou em companhia - que companhia escolheremos, eis aí novas decisões a serem tomadas.

Última mensagem de Bento XVI em seu twitter antes do anúncio da renúncia: "Devemos ter confiança na força da misericórdia de Deus. Embora sejamos todos pecadores, a sua graça nos transforma e renova."


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