Para sempre

Certa vez, alguém me perguntou: "O que é a 'vida eterna'?" - referindo-se à narrativa cristã de que morremos para este mundo, mas viveremos eternamente. Acredito que não respondi como era esperado (havia uma certa malícia descrente na pergunta, é bem verdade), talvez para desmistificar uma expectativa de uma resposta baseada no sobrenatural ou nos mistérios da fé, talvez somente para ser honesto com o que acredito e posso comprovar.

























É mais ou menos o seguinte: antes de perguntar o que é a vida eterna (viveremos para sempre?!), é impossível não esbarrar na ideia de morte e fim das coisas. E vivemos hoje sem saber se viveremos amanhã, não é segredo para ninguém que não sabemos até onde vai a nossa vez por aqui. Então, viver para sempre seria viver depois de morrer. E como viver depois de morrer? O que nos espera dali em diante?

Aí uma série infinita de teorias se apresenta para quem quiser aprofundar as opiniões que tentam responder tais perguntas, mas aqui elas não importam muito. O motivo: uma vez descobertas suas respostas, não haverá mais como transmiti-las. Acredito que mais importante que desvendar esses mistérios é cuidar do nosso jardim, fazer o que podemos com o que nos é possível agora, antes do que chamamos de "fim". Alguém pode lembrar da passagem bíblica "Orai e vigiai (...) não se sabe o momento nem a hora", e por aí vai.

Orai, vigiai e seja vida. Se o que persegue-se é um algo mais, se há algo que nos inquieta a duvidar que nosso fim seja apenas este e nada mais, se alguma coisa se move em nós e nos faz perceber que isso não é tudo, que somos muito pequenos diante da imensidão da eternidade... a fé atua e muito neste campo, mas não é só isso. Acredito que a vida eterna se faz quando deixamos de ser apenas nós, e passamos a viver nos outros. A eternidade está em fazermos a diferença, por menor que seja, de forma sincera na vida de alguém. Assim, com certeza as marcas que comumente dizemos que as pessoas deixam nas vidas umas das outras, eternizam o que somos, nossa essência não está em palavras bonitas, mas em atos verdadeiros.

Quem estiver numa onda mais filosófica, talvez já tenha se perguntado: e se minha hora chegasse agora, do que as pessoas se lembrariam? Que marcas temos deixado? Como seremos eternos? O que é vida eterna? Há um mistério bem maior nisso tudo, mas parte dele parece bem clara: a eternidade começa aqui, podemos plantá-la, podemos nos tornar eternos sendo o melhor que podemos ser na vida, vivendo pra valer cada instante como se fosse o último e da forma mais intensa com os outros, vivendo hoje o que a memória eternizará amanhã.

Valeu!

3 comentários:

  1. Posso dizer "Perfeito"?
    Bom, muito bom mesmo...

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  2. Faça uma criança, plante uma semente, ecreva um livre que ele ensine algo de bom! rs

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  3. Acho complicado essa ideia de que a vida eterna se dá quando passamos a viver nos outros. Existe aí um princípio de eternidade, porém ainda finita. Porque grandes homens fizeram grandes coisas e foram esquecidos (apesar de seus grandes feitos permanecerem por aqui), porque não nos lembramos de quem foi nosso tataravô (apesar de seus genes continuarem vivos em nós).

    A vida eterna é passar a viver em Deus. O que importa é Deus não nos esquecer. E aí, meu caro Davi, não tem jeito, caimos na abstração. Porque só Deus é eterno, ao mesmo tempo que é in-finito, in-visível e in-sondável.

    Veja, as categorias que determinam o ser de Deus não cabem neste mundo temporal, finito, visível e sondável. De modo que, viver em Deus, cedo ou tarde, significará in-existir neste mundo. Aqui tornar-se nada.

    Assim, nossa esperança se aproxima do desespero dos descrentes: O que restará de nós aqui depois do Fim? Nada (Pelo menos neste mundo).

    No mais, concordo com você. A nossa FINalidade determina nossa realidade. Como quando nosso pai prometia a bicicleta no final do ano se fossemos excelentes na escola. O futuro determina o presente.

    Aquele que não crê não tem futuro. Morrer pode ser já. E se não há bicicleta, nem fim do ano, o negócio é tocar o terror aqui e agora, queimar-se inteiro no fogo das paixões e se sobrar algo prá amanhã, amanhã será o mesmo fogo, quem sabe mais intenso.

    Aquele que crê vive pelo futuro. Não sem risco. E se no fim do ano não tiver bicicleta? Terei perdido meu tempo, poderia ter aproveitado. É uma aposta, um salto no escuro.

    Mas aí é que está a beleza disso tudo. Você é livre para decidir se terá futuro ou não. À primeira vista não há prejuízo em nenhum dos dois modos de viver, se forem assumidos conscientemente. Porque nos dois você estará com o controle de sua vida.

    Porém, não estamos falando de bicicleta, ou passar os dias na zoeira, estamos falando de eternidade. Qual a vantagem de abrir mão dessa possibilidade? Nenhuma.

    Porque no fundo, crendo, eu também posso tocar não o terror, mas o amor, aqui e agora, queimar-se inteiro no fogo não das paixões, mas do EspÍrito Santo, e se sobrar algo prá amanhã, amanhã será o mesmo fogo, quem sabe mais intenso.

    Concluindo, não existe Vida Eterna sem Fé em Deus. E crer é uma alternativa melhor que não crer.

    MOVA-SE com Deus.

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